Um poema de Guillaume Apollinaire


Tive a coragem de olhar
Tive a coragem de olhar para trás
Os cadáveres dos meus dias
Assinalam o meu caminho e eu choro-os
Uns apodrecendo nas igrejas italianas
Ou entre os limoeiros
Que dão ao mesmo tempo e em qualquer estação
A flor e o fruto
Outros dias choraram antes de morrerem nas tabernas
Fustigados por ardentes ramos
Sob o olhar duma mulata que inventava poesia
E as rosas da electricidade abrem-se ainda
Nos jardins da minha memória

em O Século das Nuvens, Lisboa: Assíri&Alvim, 1ª edição, versões de Jorge Sousa Braga, p.55.

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