Um poema de Paulo Teixeira

5. A Segunda Trombeta

De encontro aos meus olhos nem toda a luz
é pacífica. Na tarde que cai as águas
emergentes desenham a ilusão de uma costa
onde marinheiros de olhos vítreos esperam
comigo o abraço último das sereias.

Noé uma segunda vez, sei que a inutilidade
do primeiro dilúvio não impediu um deus
carecido de imaginação de enviar,
com redobrado brilho, uma segunda inundação.

Na terrível disposição do dia, de encontro
a estas baías da mais primitiva calma,
espero sentir a mão indulgente de Satanás
para levar-me à pedra e ao limbo dos oceanos,
onde meia-noite e meio-dia
se tocam sem saber com a palavra fim.

em Conhecimento do Apocalipse, Lisboa: & etc, 1988, p. 35.

1 comentário:

Anónimo disse...

Parabéns pelo não respeito do Acordo Ortográfico!
Voltarei.
a) flordocardo