Um poema de António Amaral Tavares


Van Gogh, a orelha e os corvos

Cortar uma orelha é coisa pouca
para quem tanto ouve pancadas de luz.
E talvez à luz tenha entregue afinal
em demasia o lodo que vertia em
cada quadro. Um campo de trigo
devassado por corvos faz-nos perguntar
que morada ocuparão eles findo o verão
esse vocabulário mínimo de morte.

E sábio como era apontou a arma.


em Trabalhos em Vidro, Coimbra: Palimage, 1ª edição, 2012, p. 16.