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Cheguei há pouco a casa. Fui fazer a minha caminhada habitual pelas ruas da vila. Por mais que me tente encontrar nelas: não consigo. Admiro aqueles que estiveram fora e regressaram para aqui fazer vida. Admiro a sua coragem, resiliência. Desde 2001 que ando por aí. Ponte de Lima é o meu limite a norte; Silves a sul. Há quem me diga que "vida não me falta". Sorrio sempre ao ouvir isto. Entendo aquilo que me querem dizer, mas sorrio sempre. Sei que são muitos quilómetros de estrada por este país. São muitas as experiências. Cruzei-me com pessoas de todos os géneros e feitios. Vivi em sótãos, apartamentos, quartos, vivendas, anexos. Já passei muito frio para poupar na electricidade, numa tentativa inglória de não me sobrar mês. Nunca poupei na comida. Nem na poesia (apesar de não comprar todos os livros que me apetece comprar). E devido a tudo isto há quem me diga que "vida não me falta". No entanto, encontro mais vida numa pedra do ribeiro da vila; mais vida na nogueira e na sua sombra, que sempre me ensinaram a evitar; mais vida nos pastores que deixei de ver a cruzarem as ruas com os seus rebanhos (embora nunca lhes tenha cobiçado a vida que tinham); mais vida numa senhora que sei nunca ter visto o mar e que nunca sentiu falta de o ver. 

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