Bernardo Soares


Se penso isto e olho, para ver se a realidade me mata a sede, vejo casas inexpressivas, caras inexpressivas, gestos inexpressivos. Pedras, corpos, ideias ― está tudo morto. Todos os movimentos são paragens, a mesma paragem todos eles. Nada me diz nada. Nada me é conhecido, não porque o estranhe mas porque sei o que é. Perdeu-se o mundo. E no fundo da minha alma ― como única realidade deste momento ― há uma mágoa intensa e invisível, uma tristeza como o som de quem chora num quarto escuro.


em Livro do Desassossego, introdução e nova organização de textos de António Quadros, 2ª edição, Lisboa: Publicações Europa-América, Livros de Bolso, 1995, p. 113.

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