Simone Weil


E, no entanto, nada existe no mundo que possa impedir o homem de sentir-se nascido para a liberdade. O que quer que advenha, jamais ele poderá aceitar a servidão, pois nele existe o pensamento. Jamais cessou de sonhar uma liberdade sem limites, quer sob a forma de uma felicidade passada, da qual, por castigo, teria sido privado, quer como felicidade vindoura, que lhe seria devida através de uma espécie de pacto com uma providência misteriosa. O comunismo concebido por Marx é a forma mais recente deste sonho. Tal sonho, como todos os sonhos, sempre permaneceu vão, e se através dele alguma consolação adveio foi semelhante àquela oferecida pelo ópio; é já tempo de renunciar a apenas sonhar a liberdade e decidir concebê-la.


em Reflexões sobre as causas da liberdade e da opressão social, tradução de Maria de Fátima Sedas Nunes, Lisboa: Antígona, 2017, p. 73.

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