(...)


Diz o calendário que é Sexta-feira Santa. Longe vai o tempo da sirene da fábrica às três da tarde — dizem ser a hora em que Cristo morreu na cruz — e a vila toda parava num minuto de silêncio. Mais logo o Enterro do Senhor e o som das matracas a rasgar a noite.

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O trompete de João Moreira deixa o tempo em suspenso. Nuvens prometem novamente chuva. Haverá grelos salteados e robalo assado no forno para o almoço. O gato dorme indiferente a isto tudo.

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Não sei já a última vez que tive um pensamento bom sobre o mundo.

Em repeat

 



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Paulo Baldaia, há pouco na SICNotícias, sobre o nome de Eduardo Oliveira e Sousa para a pasta da Agricultura: "Espero que já lhe tenham dito que a terra não é plana.".

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Diogo Pacheco de Amorim irá receber,  por mês e enquanto vice-presidente da Assembleia da República, o salário ilíquido de 4916,39€ (quatro mil novecentos e dezasseis euros e trinta e nove cêntimos). Pergunto: qual o salário ilíquido, segundo o CH, para "tacho"?

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© Vladimiro Vale

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O meu fascínio pela música de Burial já vem de há tempo. Mas admito que foi com a leitura de Mark Fisher que tudo se encaixou e fez sentido. Diz Fisher:
Quando ouvi Burial pela primeira vez, (...) fui logo buscar o primeiro álbum de Tricky, Maxinquaye, como ponto de comparação. Não era apenas a utilização do crepitar do vinil, (...) a sugerir a afinidade. Era também a atmosfera dominante, a forma como a tristeza sufocante e uma melancolia balbuciada contaminavam um erotismo e um discurso onírico a sofrer de amores (...) a música de Burial invoca cenas urbanas sob um chuvisco permanente à maneira de Blade Runner (...). (1)

Ontem, enquanto descia a Almirante Reis (depois de vir da Flur, onde adquiri o álbum) senti isso mesmo. Havia um leve chuvisco permanente que às vezes se transformava numa chuva forte e intensa. Os edifícios sujos e velhos à minha volta, os aromas dos diferentes restaurantes, os passeios apinhados de gente que fala uma língua que não a minha (em todos os sentidos), mais o som da cidade. E eu a pensar "levo aqui a banda-sonora disto tudo".


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(1) Fantasmas da minha vida: Escritos sobre Depressão, Hantologia e Futuros Perdidos, tradução de Vasco Gato, VS, 2021, p. 81.

Um poema de Vasko Popa


Escola de São Sava


Ele senta-se no ramo alto de uma pereira
Murmura algo para dentro da barba

Escuta
As folhas de lábios de mel
Rezam com as suas palavras

Observa
O vento que dissemina o fogo
Pragueja nas colinas com as suas palavras

Sorri
E lentamente rumina
O livro do senhor do universo

E chama os lobos famintos

Do alto da pereira atira-lhes páginas
Cheias de letras vermelhas de longos pescoços
E cordeiros brancos


em A Maçã de Ferro, selecção e tradução de Filipe Ribeiro, s/l: maus, 2024, p. 73.

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Tendo em conta a actual situação política nacional, e os comentários que por aí vou ouvindo em relação à ascenção da extrema-direita no nosso país, apenas me ocorre este poema de Vasco Gato:

«A nossa situação é, no meio das avalanches, tentarmos um paisagismo.» (1)
Feliz Dia Mundial da Poesia.

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(1) Rusga, Lisboa: Trama, 1ª edição, 2010, p. 13.

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Nada disto, sinceramente, me admira. Sou de uma terra onde o impacto da emigração se fez sentir, principalmente no Verão quando regressavam para passar um mês "na terra" e a população da vila duplicava, ou triplicava. Ouvi muitas vezes, à mesa, a conversa de sempre: "os auserianos [argelinos, em emigrês] 'tão a dar cabo do cartier"; "todos ilegais"; "uma vergonha"; "são uns porcos". Tudo isto da boca de quem tinha ido "a salto" até França, para fugir da prosperidade que havia no nosso país antes do 25 de Abril. Gente que tinha vivido nas luxuosas bidonville, com saneamento básico e ruas pavimentadas, com duches quentes duas vezes ao dia e condições de salubridade exemplares. Gente com trabalho qualificado, contrato e descontos para a segurança social. Isto só para falar dos de França. Os emigrados na Suíça era outra conversa. E, sinceramente, não me apetece tê-la.

Luta de classes: uma necessidade


1.

Pouco ou nada mudou desde que Marx e Engels, no seu Manifesto do Partido Comunista, afirmaram que a história de toda a história é aquela da luta de classes. A luta de classes é o motor da história, das mudanças sociais, e é, também, o reflexo das diferenças materiais que existem no tecido social. Todavia, isto não quer dizer que a luta de classes abrange tudo. Apenas significa que a luta de classes é aquilo que de mais importante, ou fundamental, existe na história do homem.

Foram as propostas e formulações de Marx e Engels que deram destaque ao termo classe. Até então o termo remetia para a ideia da parte de um conjunto maior, isto porque tinha sentido de categoria, por oposição a ordem ou estado, e designava uma série de grupos definidos a partir de critérios, que passavam quer pela hierarquia, hereditariedade e solidariedade. O conceito de classe social surgiu, nestes dois autores, como proposta para a análise da sociedade moderna. O ponto de partida foi o proletariado, que Marx e Engels viam como uma nova força política com capacidade emancipadora e, consequentemente, importante na luta pelo fim da exploração do homem pelo homem.

Os dois autores defenderam que uma classe social só se constituía em oposição aos interesses de outras classes, tomando, dessa forma, consciência do seu lugar na sociedade. Ao fazerem isso, procuram estabelecer as bases para aquilo que consideravam ser uma dinâmica social. Assim, afirmaram de forma clara e inequívoca o papel fundamental e preponderante da luta de classes. Ao associarem estes dois termos, classe e luta de classes, tornaram mais compreensíveis os fundamentos da divisão económico-social das sociedades modernas e capitalistas.

Dessa maneira, a luta de classes passa a apresentar-se como uma categoria de análise económica de grande relevância para entender toda a dinâmica do capitalismo. É, também, um instrumento político, que servirá para promover a transformação das relações sociais existentes, convertendo-as em novas relações sociais, relações essas que passarão a ser livres dos processos de exploração entre os vários sujeitos sociais.


2.

É certo que há quem hoje negue esta evidência. Dizem que não há luta de classes, pois essa já não é necessária, graças ao desenvolvimento que o capitalismo proporcionou (desenvolvimento esse que é inegável). Afirmam, também, que o capitalismo mudou, e isso levou ao desaparecimento do antagonismo entre o proletariado e a classe dominante. Defendem que o capitalismo se tonou democrático e, como consequência, foram incorporados elementos que podem ser considerados socialistas. Acrescentam, ainda, que vivemos num estado de prosperidade geral, daí a não necessidade da transformação revolucionária do regime capitalista. Outros sustentam que a teoria marxista “envelheceu” e que existe uma inadequação do próprio conceito (luta de classes), quando, por exemplo, se pretende estudar uma qualquer realidade histórica e social.

Há até quem diga que já não existe proletariado, numa tentativa de invalidar a pertinência da luta de classes, já que a evolução do sistema capitalista teria tornada inadequados os conceitos de classe (nomeadamente de classe operária) e de luta de classes. Nada poderia ser mais falso. Nos chamados países pós-industriais, é a “proletarização generalizada” (Sousa Dias) que está em curso: uma proletarização forçada, heterogénea e que abrange todo o tipo de trabalhadores, das empresas fabris aos serviços, do público ao privado, por conta de outrem ou em nome próprio, tendo como ponto comum a condição precária, desregulada e sem verdadeiros direitos laborais. As consequências estão à vista: há cada vez mais um maior fosso entre uma minoria, constituída por uma elite económico-financeira, e uma maioria expropriada dos seus antigos direitos, bem como de uma vida digna e justa.


3.

A luta de classes é indissociável da luta política. As classes distinguem-se entre si pelo seu modo de vida e pela condição da sua existência, mas também pelos seus interesses e pelos seus fins, bem como pelas ideias políticas e morais. Aliás, o aparecimento de partidos políticos é o exemplo claro da luta de classes. A própria luta entre partidos políticos é a afirmação da luta de classes. A questão é que alguns tentam apresentar os seus partidos políticos como estando acima das classes, imbuídos de um espírito conciliador. Chegam mesmo a dizer que a pertença a um certo e determinado partido não tem relação com uma determinada classe. Nada poderia ser mais falso. Se pensarmos, por exemplo, nos dois partidos mais votados nas últimas eleições legislativas no nosso país (PSD e PS), não existem grandes diferenças de princípio. Na realidade, ambos defendem, pela sua ideologia e pela sua política e prática política, a classe privilegiada e dominante, mais os seus interesses económicos.

A verdade é que actualmente, quer alguns queiram quer não queiram, a luta de classes está presente e é tudo menos um anacronismo. A cada dia que passa ela se intensifica, quer seja através da luta por melhores condições de vida (habitação, cultura, saúde, educação) e pelo aumento dos salários; mas também na luta pela dignidade humana e por uma vida justa, pela paz e contra o rearmamento; ou contra a fascização e a favor da Democracia (só para citar alguns exemplos).


4.

Enquanto o regime capitalista permitir que uma minoria se aproprie do trabalho da maioria – trabalho que na maior parte das vezes não é retribuído justamente, sendo de forma clara um roubo – e permitir que uma minoria decida de forma autocrática, mas travestida de democrática, o destino da maioria, haverá, inevitavelmente, luta de classes.

Deste modo, a pertinência e a sua necessidade é inegável. Ela liga e aproxima aquilo que parecia afastado entre si. Determina eventos, instituições e formas de pensar, desempenhando, dessa maneira, um papel importante e decisivo na transição de uma época histórica para outra. Devemos, pois, redescobrir a sua força e usá-la para revolucionar o estado da nossa sociedade.

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Há 153 anos era proclamada a Comuna de Paris. Durou 72 dias: de 18 de Março a 28 de Maio de 1871. Estava organizada de acordo com os princípios democráticos: a elegibilidade, responsabilidade e a demissibilidade de todos os funcionários. Fixou uma remuneração mínima no trabalho, tomou medidas de proteção do trabalho e de luta contra o desemprego, tomou providências para o melhoramento das condições de habitação da população, preparou a reforma escolar, fundamentada no princípio da educação geral, gratuita, obrigatória, laica e universal. Como disse Lénine: "A causa da Comuna é a causa da revolução social, é a causa da completa emancipação política e económica dos trabalhadores, é a causa do proletariado mundial. E neste sentido é imortal."

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O discurso "ninguém gosta de nós" e "já não se pode ter sucesso em Portugal" de alguns banqueiros é-me repugnante. Houve um dos banqueiros que disse algo do género "quando os bancos trabalharam com juros negativos ninguém reparou nisso". Um choradinho que envergonha qualquer um, menos aqueles que o fazem, principalmente depois dos 12 milhões de euros de lucros diários da banca portuguesa no seu conjunto.

Não sei nada disso

Na escola um jovem casal de dezasseis anos. Ela com um bebé nos braços. Na sala dos professores ouço:
- Vamos lá trabalhar qu'é pra pagar o subsídio. Metade dos meus impostos é pra isso!
- Pois, vamos lá.
Pelas entre-linhas: risos.
Levanto-me e digo:
- É isso! Tenho de ir trabalhar para pagar também com os meus impostos o vosso salário!
Silêncio. Depois ouço:
- Não sei se é bem assim!
- Então é como? Com o rendimento dos poços de petróleo que temos no país?
- Também não é com os negócios do Governo?
- Quais negócios?
Desconversa mas eu retomo.
- Só o Governo é que faz negócios?
- Eu não faço.
- Não foi isso que eu perguntei.
- Não sei nada disso.
Retomo.
- Negócios, e grandes, faz a Jerónimo Martins, que tem milhões de lucro e paga uma miséria aos produtores nacionais. E depois vais a um supermercado deles e ainda te queixas que a vida está cara. Isso é que são negócios!
- São as leis da economia!
- Da economia?
- Sim! Que tabelassem os preços!
- Houve quem os quisesse tabelar. Houve quem na Assembleia da República fizesse a proposta. Foi chumbada por vários partidos. Entre eles o partido do um milhão e cem mil votos!
Silêncio confrangedor. E fui dar aulas.

Li por aí


O que acontece é que estas pessoas que procuram uma equivalência entre Chega e PCP, tão aparentemente indignadas com o ascenso da extrema-direita, acabam sempre por dirigir o tiro político para o mesmo inimigo de sempre, o seu verdadeiro adversário, aquele que, mesmo na mó de baixo, enfarinha as suas irreprimíveis emoções: os comunistas portugueses que, irritantemente, apesar de todas as crises, apesar dos seus erros, apesar das suas sucessivas quebras eleitorais e apesar de todas as declarações antecipadas de morte, ainda valem em Portugal mais de 200 mil votos e elegem 4 deputados, muito acima da extinção parlamentar que as sondagens, durante quase toda a campanha eleitoral, vaticinaram... 

Ó verdadeiros, únicos e genuínos democratas: têm de trabalhar mais, porque ainda não foi desta que mataram o PCP.

Pedro Tadeu
O Chega veio substituir o PCP?
Diário de Notícias, 13 de Março de 2024

"Processo de reestruturação"


No dia 26 de Agosto de 1975, Luiz Francisco Rebello escrevia a Louis Althusser. Dizia-lhe o seguinte: "A sua carta aparecerá ainda esta semana no 'Diário de Notícias', que é o quotidiano mais difundido no país." (1). Hoje, dia 12 de Março de 2024, ficámos a saber que a Global Media avançou com o despedimento colectivo no Diário de Notícias. Falam em "processo de reestruturação".


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(1) "Cartas sobre a Revolução Portuguesa", tradução de João Labescat da Silva, Seara Nova, 1976, p. 28.

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Tantos admirados com mais de um milhão de votos no partido dos 48 deputados. Tantos a dizer que não há um milhão de fascistas em Portugal. Tantos a dizer que há gente boa naquele mais de um milhão de votos. Tantos esquecidos que há uns anos Salazar foi votado o maior português de sempre num programa televisivo.

PNEC - Processo de Normalização em Curso

Só falta começar a dizer que o partido com 48 deputados não é fascista porque mais de um milhão de portugueses votou nesse partido, e não há um milhão de fascistas no nosso país. Tal como sabemos que o país não é intrinsecamente machista (as 22 mulheres assassinadas em 2023 e mais de 30 mil queixas às autoridades são apenas um percalço), nem intrinsecamente racista (os 347 crimes de discriminação e incitamento ao ódio em 2023 foram apenas outro percalço). O PNEC (Processo de Normalização em Curso), há muito que começou, mas agora está em velocidade de cruzeiro: convencer quem votou em fascistas que tanto eles, como elas, não o são. Quando isso acontecer, o círculo ficará concluído.

Álvaro Cunhal


Ser comunista é compreender e praticar a política não para se servir da política em benefício próprio, mas para através da acção política servir o povo e o país. Com verdade, com convicção, com serena firmeza, com consciência tranquila. Mantendo vivos no pensamento e na acção valores básicos elementares como a igualdade de direitos, a generosidade, a fraternidade, a justiça social, a solidariedade humana.


em O Comunismo Hoje e Amanhã, retirado do site marxists.org (
https://www.marxists.org/portugues/index.htm), em linha no dia 11 de Março de 2024.

A noite mais escura da nossa Democracia


A noite mais escura da nossa Democracia aconteceu. Por aquilo que vou lendo por aí, os meus amigos estão chocados com o resultado eleitoral. Chocados, angustiados, tristes, revoltados. Mas a verdade é que nenhum dos meus amigos, reais e virtuais, pode alegar que não estava à espera. Nenhum pode alegar que ficou admirado. Nenhum pode perguntar: “mas como é que isto aconteceu?”. A hipocrisia tem limites e não tenho os meus amigos por hipócritas.

Todavia, cada um de nós pode fazer a seguinte pergunta: o que fiz eu, individualmente, para evitar que a noite mais escura da nossa Democracia tivesse acontecido? o que fiz eu, individualmente, para esclarecer, debater, refutar as bocas que ouvi sobre “corrupção”, “tachos”, “imigração”, “limpeza”, “superioridade estética e moral” e essas alarvidades que todos nós conhecemos, ouvimos? o que fiz eu para, no meio da escuridão que se avizinhava, tentar que a luz brilhasse, permanecesse acesa?

E podemos perguntar: o que fizemos nós, colectivamente, para impedir que passassem, já que quase todos enchemos a boca com “Não passarão!”? já que quase todos gostamos de cravos e de sair com eles na lapela à rua? já que quase todos sabemos que a culpa não é apenas dos meios de comunicação social, ou do Tik Tok? Porque, na realidade, quase todos nós, uma ou outra vez, ficámos em silêncio. Porque, na realidade, quase todos nós já nos sentámos à mesa com alguém que proferiu uma série de inanidades e continuámos sentados.

Será que estamos mesmo dispostos a deixar que isto continue sem tomar, verdadeiramente e de cara levantada, partido?


Lí por aí


Os jornalistas teimam em alterar o sentido destas eleições, referem-se sempre à escolha do primeiro-ministro e do governo, mas eu nunca voto no primeiro-ministro nem no governo, voto para eleger quem me represente na Assembleia da República. E só lamento que tanta gente que precisa de quem lute pelos seus direitos encolha os ombros e diga que não liga à política. — Não é a política a forma de lidarmos uns com os outros?

Outra coisa que me chateia é a pergunta que se tornou lugar comum: a quem é que comprávamos um carro em segunda mão? Nem quero saber do carro, nem tudo se resume a uma relação de compra e venda. Sei bem é com quem partilhava a mesa e com quem nem um café tomava.

C.

Calendário


Andei pela abstenção. Era a minha maneira de protestar. Tal como Biedma: sempre fui de esquerda, mas há muito que não praticava. Há dois anos decidi tomar partido. Dos 103 anos do PCP, que hoje se comemoram, dois são comigo. A luta continua!

 

Montenegro e as pensões


Luís Montenegro diz que se demite se cortar pensões. Vamos por pontos, para ver se entendi:
  1. Luís Montenegro é eleito para deputado e é convidado a formar governo;
  2. Luís Montenegro, como Primeiro-Ministro, corta as pensões;
  3. Luís Montenegro demite-se;
  4. As pensões continuam cortadas.
É isso?

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Passos Coelho começa a estar cada vez mais parecido com Cavaco Silva: sempre que aparece é para regurgitar umas inanidades. Só que no caso de Passos Coelho, podemos, também, acrescentar as falsidades. Ontem, num comício da AD, Passos Coelho relembrou que, em 2016, defendeu "um país aberto à imigração", mas considerou que é preciso ter "cuidado" para ter um "país seguro". "Na altura, o Governo fez ouvidos moucos disso, e na verdade hoje as pessoas sentem uma insegurança que é resultado da falta de investimento e de prioridade que se deu a essas matérias. Não é um acaso", sustentou.". Esta retórica da insegurança associada a imigração é recorrente em partidos de extrema-direita, onde a xenofobia e o racismo são uma constante. Nunca imaginei vê-la num partido da direita democrática. Passos Coelho (sob cuja presidência do PSD foi parido André Ventura como candidato à Câmara de Loures, e cujas declarações levaram o CDS de Cristas a retirar-lhe o apoio), sabe, de certeza, que aquilo que diz não é verdade. Mas, ainda assim, atira a segunda pedra (a primeira há muito que foi atirada por Ventura e seus acólitos). E foi aplaudido. O cheiro a bafio é, cada vez, mais insuportável.